08/04/2008

Carta de Mãe triste

HISTÓRIA CONTADA PELA D.SILVINA


Carta de uma mãe alentejana para o filho que está na Bósnia

Mê querido filho:

Escrevo-te algumas linhas apenas para saberes que tou viva. Estou-te a escrever devagar, pois sei que nã sabes ler depressa. Nã vais reconhecer a nossa casa quando voltares, pois nós mudamo-nos. Temos uma máquina de lavar rôpa, mas nã trabalha muito bem, a semana passada pus lá catorze camisas, puxei a corrente e nunca mais a vi.
Acerca do tê pai, ele arranjou um bom emprego, tem 1500 homens debaixo dele, pis agora está cortando a relva do cemitério.
A magana da tua irmã Maria teve um bebé esta semana, mas sabes, eu nã consegui saber sé menino ou menina, portanto nã sei sês tio ou tia.
O tê ti Patrício afogou-se a semana passada num deposito de vinho, lá na adega cuprativa, alguns compadris tentaram salvá-lo mas sabes, ele lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado mas levou três dias para apagar o incêndio.
Na quinta – feira fui ao médico e o tê pai foi comigo. O médico pôs-me um pequeno tubo na boca e disse-me pra nã falari durante dez minutos. Atão nã sabes que o tê pai ofereceu-se logo pra comprar o tubo ao médico.
Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante três dias e na segunda durante quatro dias. Na segunda segunda feira teve tanto vento que uma das galinhas pôs o mesmo ovo quatro vezes.
Recebemos uma carta do cangalhero que informava que se o ultimo pagamento do enterro da tua avó nã for feto no prazo de sete dias, devolvem-na.
Olha mê filho cuida-te.
Nã te esqueças de beber muito lête todas as notes, antes de interrares os cornos na fronha.

Um beijo:
Jaquina do Chaparro
P S: Era pra te mandar 20£, mas já tinha fechado o envelope, nã tos mandei. Fica pra próxima, porra.

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